Biosofia nº 35

5.00

Categoria:

Artigo

 

MITOS E TRADIÇÕES

OS DRUIDAS E AS SUAS REMOTAS ORIGENS

 

Os Druidas foram uma casta sacerdotal entre os celtas, tendo florescido na Bretanha e na Gália. A origem do seu nome permanece controversa. Muitos tendem a considerar que, tal como ocorre com a palavra irlandesa drui, significaria “o homem das florestas de carvalhos”; e, a reforçar esta tese, há o facto de os gregos da Antiguidade chamarem dryades às divindades das florestas. Com efeito, também em grego o carvalho se dizia drus. Entretanto, com igual plausibilidade, há quem faça derivar a palavra “druida” do gaélico druidh, que significa “homem sábio” ou “mago”. Do mesmo modo, em árabe, deri significa “homem sábio”; e, em persa, duru significa “um homem santo”. Outros, ainda, associam-na ao hebraico derussim, drussin ou drissin, que quer dizer “homens contemplativos”, nome, aliás, com alguma semelhança com o dos daruish (dervixes), da Turquia e do Irão.

Em sânscrito, dru significa viga, tronco de madeira, e também esta significação teria alguma consistência (talvez um pouco “tortuosa”, convenhamos) se a relacionarmos com o episódio grego da Argo e dos Argonautas. Vejamos o mito: a Argo fora construída num porto da Tessália, pelo herói grego Argos, com o auxílio da deusa Atenas. A proa da nau foi feita de uma peça só, um tronco do carvalho sagrado de Dodona, trazido pela deusa, e à qual ela teria concedido o dom da palavra e da profecia (mas que deveria ser usada uma só vez) 1. Orfeu, o primeiro Bardo, e talvez uma personagem-chave por detrás da filosofia dos Druidas, teria participado na famosa expedição à Cólquida, em busca do Velo de Ouro 2. Este era um velo mágico (que pertencera ao carneiro alado Crisómalo) e que se encontrava pendurado num carvalho num bosque consagrado a Ares e guardado por um dragão. Este carneiro veio a “transformar-se” na constelação de Áries.

Algumas fontes, em particular no final do século XIX, atribuem a origem do druidismo e dos celtas à Mesopotâmia (como veremos à frente), outras, ao Irão, onde os ancestrais do povo céltico teriam prestado culto a Ahura Mazda no Hu-Karya, o cume do monte sagrado Hara Berezaiti. Fora ali que Zoroastro havia sido iniciado e que recebera do Arcanjo Vahumano um sagrado “mantram”, que deveria pronunciar todas as manhãs: “Ergue-te, oh rútilo Sol, e sobe com os teus fogosos cavalos ao Hara-Berezaiti, e aí alumia o mundo!”.

No Avesta pode ler-se que esta montanha era o Centro do Mundo3 e a fonte de todas as montanhas e cordilheiras da Terra; assim, por exemplo as montanhas nevadas do Hindu Kush3 (no actual Afeganistão e Paquistão Ocidental) surgem no Yasht 19.3 como sendo um dos prolongamentos do Hara. Era ali, nas montanhas nevadas do Hindu Kush e do Hu-Karya, que crescia a planta sagrada a que os parsis chamavam gaokerena ou haoma, e que os hindus chamavam kusha.

Segundo a mesma tradição, foi dali que trouxeram o culto do Ovo da Serpente, simbolizando a vida gerada a partir da Serpente da Eternidade4. Com efeito, tal como os Parsis com Ahura Mazda, também os Druidas celebravam o fogo solar em louvor a Hu, a sua Divindade suprema. Reconhecendo o sol como representante dessa divindade, no dia do solstício de verão faziam incidir os seus raios em cristais ou águas-marinhas, acendendo assim os fogos dos altares.

Em algum tempo nebuloso, estes sacerdotes e o seu povo teriam empreendido uma fantástica viagem – eventualmente em diferentes vagas espaçadas no tempo – atravessando a Ásia Menor e a Grécia até à Europa ocidental, consigo trazendo os seus prestimosos conhecimentos astrológicos, botânicos e medicinais.

 

Os Druidas na Céltica

Os Druidas eram o ápice da sociedade celta. Constituíam uma figura veneranda, que todos escutavam e ante a qual todos se curvavam. Tanto na Irlanda como na Gália, a sua voz falava mais alto que a do rei, sendo eles que decidiam e/ou arbitravam sobre as escolhas e eleições reais. Tinham também a última palavra nas questões militares, com poder para parar ou iniciar uma guerra, e infringindo castigos aos guerreiros prevaricadores. Um vislumbre acerca desta enorme ascendência dos Druidas sobre as hordas militares, dá-nos Diodoro da Sicília: “Por várias vezes, quando exércitos se aproximavam mutuamente no campo de batalha, com as suas espadas desembainhadas e as suas lanças erguidas para o ataque, estes homens [os Druidas] avançavam entre eles e cessavam o conflito como se tivessem encantado alguma espécie de animais selvagens. Assim, mesmo entre os mais selvagens bárbaros, a fúria rendia-se ante a sabedoria, e Ares prestava homenagem às Musas…”.

Por vezes, os Druidas acumulavam eles-próprios funções guerreiras. O celebrizado druida éduo Diviciacus (que foi amigo de César) comandava um corpo de cavalaria, e o druida irlandês Cathbad (que casou com uma rainha), para além dos grandes dotes proféticos que possuía, era um fogoso guerreiro, exímio manuseador da espada.

Do livro de Manly P. Hall, The Secret Teachings of All Ages, citamos a seguinte passagem: “No tempo da conquista romana, os druidas estavam confinados à Bretanha e à Gália. Eram senhores de um vasto conhecimento da Natureza e das suas leis, sendo por isso grandes botânicos, médicos, conselheiros, astrólogos. Cada druida dispunha do seu próprio terreno onde cultivava plantas e ervas medicinais, cujas propriedades só ele conhecia e manuseava”. (…) Sobre eles, ouçamos Eliphas Levi: “‘Os druidas eram sacerdotes e médicos que curavam usando o magnetismo e carregando amuletos com o seu próprio fluído. Os seus remédios universais eram o visco e ovos de serpentes, pois estas duas substâncias atraem a luz astral de maneira peculiar. A solenidade que revestia a recolha do visco consolidava a confiança popular e incrementava o seu poder magnético’ (in A História da Magia).

(…) Em certas datas, considerando as posições propícias do sol, da lua e das estrelas, os Arquidruidas trepavam aos ramos de carvalhos e recolhiam o visco com uma foice de ouro, que antes fora por eles consagrada. O visco era apanhado e carregado em panos brancos, evitando-se que tocasse o solo e fosse maculado pelas vibrações telúricas. Era frequente sacrificarem-se touros brancos debaixo da mesma árvore [prática que alude a fontes mitraicas].”5

 

Formação dos Druidas

Os Druidas eram iniciados numa Escola Secreta existente entre eles desde tempos imemoriais. Esse Corpo Escolástico tinha diferentes ramais (porém, em pequeno número) sediados no vasto território da Céltica. Eram invariavelmente lugares preservados, inacessíveis ao tumulto dos homens, que convidavam à interiorização.

Aí, tal como em todas as outras Escolas de Mistério, o candidato às doutrinas secretas dos Druidas deveria prestar um voto de silêncio. Acedia então a uma intensa e continuada instrução sobre os mistérios da criação do universo, da natureza dos deuses, das leis da Natureza, e também sobre os segredos da medicina oculta, da astronomia, dos preceitos da magia e dos encantamentos.

Este Colégio Sacerdotal, que tinha íntimas semelhanças com os Mistérios Eleusinos e Báquicos da Grécia, e com os Ritos egípcios de Ísis e Osíris, era justamente designado “Mistérios Druídicos”. Era muito exigente e selectivo na aceitação de instruendos, cuja vocação era rigorosamente testada e avaliada.

Para chegar à dignidade de Druida, o candidato tinha um longo caminho a percorrer. Na verdade, tinha primeiro de frequentar uma escola de natureza mais profana, onde outras classes de homens e mulheres podiam receber instrução e especialização. Essa escola incluía três áreas ou degraus: a inicial era a dos Ovates (Ovydd), vates ou profetas; a que se seguia, era a dos Bardos (Beirdd, ou Barth); e só na última se situava realmente a do candidato a Druida (Derwyddon).

Estrabão chamou aos Ovates “filósofos da natureza”, mencionando que tinham a seu cargo a orgânica dos rituais e festividades sagrados. Diodoro da Sicília nomeava-os como Mantéis (a palavra grega para vidente) e atribuía-lhes os sacrifícios e os augúrios divinos. Por esta descrição, é de admitir que o Ovate fosse um grau inferior de Druida. Esta classe vestia de verde, a cor da aprendizagem, e os seus membros iniciavam-se na medicina, na astronomia e, em alguns casos, na poesia e na música.

Os Bardos eram uma espécie de trovadores, que cantavam, tocavam e compunham poesia. Tinham pela frente a formidável tarefa de memorizar, pelo menos em parte, os 20.000 versos da poesia sagrada druídica. Fazemos aqui um pequeno parêntesis para lembrar que este facto era em tudo semelhante ao que acontecia com os Brâmanes da Índia em relação aos Vedas, e também a certas famílias sacerdotais do Orfismo, as quais transmitiam de geração em geração, exclusivamente por via oral, os seus extensos Hinos. Os Bardos eram uma classe relevante nas comunidades celtas. Altamente especializados, eram os contadores oficiais da História celta, das suas lendas, dos seus feitos heróicos, do seu folclore. Segundo Manly Hall, eles eram muitas vezes escolhidos como instrutores daqueles que esperavam poder vir a ser aceites nos Mistérios Druídicos.

Sabe-se que, pelo menos na Irlanda, a aprendizagem do Bardo tinha sete graus, e que ele necessitava de cerca de doze anos para memorizar as mais de 300 métricas difíceis, 250 contos de primeira grandeza e 100 secundários para se tornar num Ollamh, o grau mais elevado da sua Ordem. No final ele podia usar uma capa de penas carmesins e um bastão. Os neófitos envergavam túnicas azuis, verdes e brancas.

Admite-se, porém não é certo, que a instrução destas duas classes fosse ministrada apenas por Druidas.

 

Os Mistérios Druídicos

São escassos os elementos conhecidos acerca da natureza e complexidade desta aprendizagem. Sobre o teor de algumas provas e treinamentos, chegaram-nos naturalmente muito poucos elementos. Pensa-se, no entanto, que existiam três graus6 capitais nos Mistérios Druídicos mas que poucos dos que por eles passavam seriam integralmente bem sucedidos.

Taliesin7 (c. 534599), um Bardo que cantou nas cortes de três reis celtas da Bretanha (e que se especula se terá sido Bardo na corte de Artur), teria passado por estes Mistérios e descreve um certo rito de iniciação: “…o candidato era fechado num caixão, como símbolo da morte do Deus Sol (…). O teste supremo era, no entanto, o caixão ser lançado ao mar numa barca a céu aberto. No curso desta prova, muitos perdiam a vida. Os poucos que saíram vitoriosos deste terceiro grau disseram ter nascido de novo, e foram instruídos nas verdades ocultas e secretas que os Druidas preservaram desde a antiguidade”8.

Esta descrição é em tudo semelhante a outras iniciações, designadamente no Egipto ou na Grécia. Lemos na Doutrina Secreta: “No Tempo dos Mistérios da Iniciação, o Candidato, que representava o Deus Solar, tinha que descer dentro do Sarcófago e simbolizar o raio vivificador penetrando na matriz fecunda da Natureza. Ao sair do Sarcófago na manhã seguinte, ele simbolizava a ressurreição da Vida após a transformação chamada Morte. Nos Grandes Mistérios, a ‘sua’ morte figurada durava dois dias, levantando-se com o Sol da manhã do terceiro dia, depois de uma última noite passada em meio às provas mais cruéis. (…) Assim era no Egipto; a forma e o aspecto mudavam em cada país, mas não deixava o Sarcófago de ser sempre um barco, uma nave simbólica, ou um veículo semelhante a uma embarcação, e um recipiente, simbolicamente, para os germes ou o germe da vida”9.

Muitos autores, recentes e antigos, têm registado a estreita semelhança entre o que transparece sobre os ensinamentos secretos dos Druidas e a filosofia pitagórica. Aparentemente a reforçar esta observação, estaria o que conta Hipólito Antipope no seu Philosophumena, que “os Druidas haviam recebido instrução de um discípulo de Pitágoras, Zalmoxis, um trácio que fora escravo do grande filósofo grego. Após a morte do mestre, Zalmoxis fora ao país dos celtas pregar a sua filosofia…”10. Contudo, seguramente existiriam Druidas sábios antes desse episódio: Amiano Marcelino, que residia na colónia grega Massila (Marselha) na Gália, escreveu: “os Druidas, homens dos mais refinados dotes, como a autoridade de Pitágoras atestou, entregavam-se à mais completa contemplação do divino e das coisas ocultas, desprezando os gozos terrenos, e afirmavam serem as almas dos homens, imortais”. De facto, estas palavras de Amiano sugerem uma significativa similitude com as instituições monásticas do pitagorismo.

Em regra, todos os Druidas da Gália e da Irlanda, pelo menos na última fase da sua instrução, iam ultimá-la na Grã-Bretanha. Era ali que os mais importantes colégios sacerdotais se encontravam.

De acordo com James Gardner11, havia normalmente dois Arquidruidas na Bretanha – um superintendendo na Ilha de Anglesey 12 (em celta, a Ilha de Môn, a noroeste do País de Gales)13, e o outro na Ilha de Man –, e é de presumir que haveria outros na Gália. Geralmente, nos cerimoniais estes dignitários empunhavam ceptros de ouro e eram coroados com grinaldas de ramos de carvalho, símbolo da sua autoridade. Todos os Druidas vestiam de branco. No entanto, habitualmente os mais novos vestiam de forma singela e usavam o rosto escanhoado, enquanto que os mais velhos tinham longas barbas grisalhas e envergavam magníficos ornatos dourados.

 

A Vivência e a Função Sacerdotal

O reconhecido ocultista Eliphas Levi relata que “os druidas viviam em estrita abstinência, estudavam as ciências naturais, guardavam o mais profundo secretismo, e admitiam os novos membros apenas depois de longos períodos probatórios. Muitos destes sacerdotes viviam em edifícios não muito diferentes dos mosteiros do mundo actual. Apesar de o celibato lhes não ser exigido, poucos casavam. Muitos, retiravam-se do mundo e viviam em reclusão em grutas, em casas de pedra-bruta, ou em pequenas cabanas adensadas nas florestas. Aí oravam e meditavam, saindo apenas e só para cumprir as suas obrigações religiosas”.

O ensinamento por eles ministrado apresentava duas vertentes. Uma mais simples, um código moral, era destinada a todos, enquanto que uma mais profunda, uma doutrina esotérica, era dirigida unicamente a sacerdotes iniciados.

Os Druidas instruíam o povo da Bretanha e da Gália sobre a imortalidade da alma. Acreditavam num tipo purgatorial de inferno onde seriam expurgados dos pecados, para depois poderem passar à bem-aventurança, na unidade com os deuses. Ensinavam que todos seriam salvos mas que era necessário retornar muitas vezes à Terra para aprender as devidas lições da vida e para vencer o mal herdado das suas naturezas”.

Filóstrato de Tiana (séc. II-III) observou que os celtas celebravam o nascimento com lamentos, e a morte com alegria. E Júlio César: “Aquilo de que os Druidas nos querem convencer, em primeiro lugar, é que as almas não morrem e que de um corpo, após a morte, elas passam a um outro…”.

 

Os Templos e o Culto

Os seus verdadeiros templos eram a Natureza – clareiras abertas em densas florestas de carvalhos, ou o alto de colinas ou de montanhas, esses eram os lugares de eleição para o culto religioso, e aí o fogo sagrado era continuamente preservado. Esses templos “assumiam formas diversas: circulares, pois o círculo era o emblema do universo; ovais, em alusão ao ovo do mundo, donde brotou, conforme as tradições de muitas nações, o universo, e de acordo com outras, os nossos primeiros pais; serpentinas, pois a serpente era o símbolo de Hu, o Osíris Druídico; cruciforme, porque a cruz é um emblema de regeneração; ou aladas, para representar o movimento do Espírito Divino”14.

Particularmente na Céltica insular, as divindades principais reduziam-se a duas – uma masculina e outra feminina, o Grande-Pai e a Grande-Mãe – Hu (Hu Gadarn) e Ceridwen (ou Koridwen), portadores das mesmas características pertencentes a Osíris e Ísis, Bachus e Ceres, e outros deuses e deusas supremos, representantes dos dois princípios de todos os Seres. Este par habitara a extremidade de um imenso lago chamado Llyn Llion, o qual, um dia, por obra do monstro Afanc, que nele morava, transbordou as suas águas, originando um pavoroso dilúvio e a destruição universal. Salvaram-se apenas um casal de justos, Dwyfan e Dwyfach. Construíram uma arca e nela fizeram entrar macho e fêmea de cada espécie existente na Terra. A Dwyfan e Dwyfach e à sua progénie, Hu ensinou a agricultura e outras maravilhas. Ensinou, por exemplo, a arte do canto, como estímulo para que os homens construíssem a memória… Distribuiu-os a todos em tribos e, tempos depois, conduziu uma delas, os cymri ou celtas, à Bretanha.

Godfrey Higgins, em The Celtic Druids 15, faz notar que, na versão narrada nas Tríades galesas, “Hu, o Todo Poderoso, era oriundo de um lugar chamado a ‘Terra de Verão’ [I Gwalad Yr Hav]” – e situa esse lugar a Oriente, “… para lá de onde fica hoje Constantinopla [Istambul] 16. E acrescenta ele: “… o líder maçon Albert Pike afirmava que ‘a Palavra Perdida da Maçonaria está oculta no nome do deus Hu dos druidas. A escassa informação existente a respeito das iniciações secretas dos druidas é, contudo, indicadora da similitude entre a sua Escola de Mistérios e as da Grécia e Egipto. Hu, o Deus Sol, foi morto e, depois de um certo número de estranhas provas de fogo e rituais místicos, retorna à Vida’”17.

É preciso lembrar que muito do que se sabe sobre os celtas, caracteriza apenas certos períodos da sua longa história e cobre (eventualmente) uma específica região geográfica. Os celtas eram um imenso mar de diferentes tribos, com distintos dialectos, e costumes e influências locais naturalmente diferentes entre si. Sabe-se, por exemplo, que existiam marcadas diferenças entre os celtas continentais e os insulares, nomeadamente no que respeitava ao culto religioso e respectivas divindades.

 

Os Festivais Druídicos

Os celtas tinham muitos dias festivos. A Lua Cheia e a Lua Nova, bem como o 6º dia do ciclo lunar, eram considerados sagrados. Pensa-se, no entanto, que as iniciações nos Mistérios Druídicos tinham lugar exclusivamente nos dois solstícios e nos dois equinócios.

Entretanto, por todos celebrada, uma das mais importantes festividades populares era a de Beltane, a 1 de Maio. Por toda a antiga Céltica, ardiam fogueiras durante toda a noite, enquanto homens e mulheres cantavam e dançavam até ao amanhecer.

Este acontecimento anual evocava um outro, sumamente sagrado em todas as culturas da antiguidade. As bodas nupciais do Rei e da Rainha, o casamento do Sol e da Lua, que ocorriam de 19 em 19 anos. Nestas datas os ciclos solares e lunares eram coincidentes, e a comunhão celeste era irradiada e celebrada por toda a Terra.

Os gregos chamaram a este ciclo astrológico o “grande ciclo metónico”18, devido à atribuição da sua descoberta ao seu compatriota Meton (c. 432 a.C.). Porém, muito antes, hindus, egípcios e, também os celtas, já dele tinham conhecimento. Hesíodo atestou isso mesmo dizendo ser o ciclo de Meton há muito conhecido nas regiões de Plutão 19 [a Hiperbórea, as terras da escuridão do norte cimmeriano]. De facto, o número dezanove era sagrado e celebrava-se por toda a Céltica, designadamente em Stonehenge (estando ali representado na Ferradura interna, constituída de dezanove pedras de dolerito), bem como nos ritos dedicados à deusa Brigid, a padroeira da medicina e da arte dos ferreiros, e a inspiradora da poesia e da música dos bardos. 20

Uma vetusta lenda grega cantava que todos os dezanove anos Apolo (Belenos, para os celtas) se dirigia a uma ilha no país dos Hiperbóreos, onde permanecia desde o equinócio da Primavera até ao ressurgimento das Plêiades. Quando estas se erguiam, o Cisne e o Delfim apolíneos brilhavam no meio do Céu em companhia da Águia de Zeus, guardiã do Omphalos délfico. Na verdade, num passado longínquo as Plêiades ficavam escondidas da vista dos homens durante quarenta longos dias21, entre o equinócio da Primavera e o primeiro de Maio. Por volta de 20 a 25 de Março o asterismo desaparecia no horizonte a oeste, depois do sol se pôr, para só reaparecer a leste, antes da aurora, no primeiro dia de Maio. Chamava-se a este acontecimento o “recobro” ou “resguardo” das Plêiades.

Considerava-se que após o nascimento do novo Rei (o deus-menino Sol), no equinócio da Primavera, a Mãe Natureza se recolhia num período de resguardo. Então, quarenta dias volvidos, no primeiro de Maio, “o dia dos pares”, a natureza vegetal e animal exultava e se abria de novo à concepção – as flores desabrochavam, o ciclo da polinização se reiniciava, os animais sentiam o apelo da renovação da vida. Os celtas perpetuaram esta tradição, ainda mesmo quando este fenómeno astrológico já não correspondia ao período descrito, e a noite de Beltane continuou sendo a festa da fertilidade, a festa da reabertura para a vida.

Em muitos lugares dançava-se em torno de carvalhos, e noutros em redor de um mastro (que era um símile daqueles), enrolando e desenrolando fitas coloridas, os pares ora se aproximando ora se afastando, em alegres jogos de sedução. Por toda parte se celebrava o mesmo acto sagrado que gerava a vida, e o mesmo que unira o casal divino.

Com efeito, tanto entre os celtas como em todas as demais civilizações da antiguidade, as Plêiades (nome que em grego queria dizer “pombas”) tinham um significado astrológico mas também místico-religioso importantíssimo. Na tradição judaico-cristã elas são o símbolo da Sabedoria Divina e do Espírito Santo. Segundo a legenda, foi o Espírito Santo [frequentemente representado no símbolo da pomba] o autor da maternidade da Virgem: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (Lucas 1, 35). Foi uma pomba que anunciou a boa-nova de um novo recomeço a Noé… Todavia, paralelamente noutras tradições, eram as pombas as anunciadoras da Vontade e dos desígnios divinos, cabendo-lhes o papel de áugures, bem como de iniciadoras nos santuários. Os ritos de Dodona22 teriam sido trazidos por uma pomba preta, e naquele oráculo a profetisa recebia o nome de “a pomba”. As pombas que, segundo Vergílio, conduziram Eneias para o ramo do visco no carvalho sagrado23 não apenas eram aves consagradas a sua mãe, a deusa Afrodite, mas foram também elas as fundadoras de todos os antigos oráculos. Curiosamente, pomba em hebraico diz-se ionah/ ione, e pensa-se que o mesmo termo derivaria do sânscrito yoni, o símbolo procriativo feminino. Ora segundo algumas fontes, antes do culto de Zeus em Dodona, ali teria havido outro ainda mais antigo santuário dedicado à deusa-mãe Dione (dia-ione).

Diz uma certa tradição que a ilha irlandesa de Iona (em gaélico Ì Chaluim Cille, que significa Ilha de Santa Columba) fora, em tempos idos, uma colónia dos assírios. No Anacalypsis, de Godfrey Higgins, podemos ler: “Os Assírios tinham no seu estandarte e como cota de armas a pomba. Os astrólogos, ou Chasdim [Chhassidi, ou assídeos], eram sacerdotes dos assírios e oficiavam no culto da pomba, ou poder generativo feminino, por isso eles chamaram Iona ou Columba à sua ilha sagrada no Ocidente”.

Semíramis, a rainha que mandou construir os famosos Jardins Suspensos na Babilónia, teria nascido em Iona, o nome primitivo da cidade de Antioquia. Também o nome Semíramis em assírio se dizia Shemiram, que quer dizer “pomba”. Semíramis era “a amada pelas pombas” (Shammuramat), que a criaram e nutriram à nascença. Este mito faz lembrar o mito hindu do deus Karttikeya, que foi amamentado e criado pelas Krittikâs (as Plêiades, ou pombas), sendo o significado de Krittikâs (em sânscrito), precisamente “as nutrizes” ou “as amas-nutrizes”, e também “as fiandeiras” ou “as tecedeiras”. Elas eram então descritas como as nutrizes e fiandeiras ou tecedeiras do Tempo, pelo que coincidem com a designação persa para as Plêiades, Parven/ Parvis/ Parwe, de “peru”, as que concebem. E Parven eventualmente teria relação com a Pârvatî (ou Maya) hindu, sendo igualmente esta a que concebe o nosso mundo fenoménico e temporal, a que tece este mundo de ilusão. Quanto aos árabes, também eles categorizavam as Plêiades de forma condicente, chamando-as Kimah (as que juntam, as que unem) e considerando-as as estrelas madrinhas da união conjugal (tal como os celtas, com a sua “Festa de Beltane”, em que as Plêiades abençoavam ou apadrinhavam os “pares”). Não há dúvida, pois, que apesar das imensas distâncias, os Antigos tinham um património de conhecimento astronómico-cosmológico comum, o qual malogradamente foi perdido…

Outra festividade importante dos celtas era o Samhain, a 1 de Novembro, mês que dava início ao ano celta. Nesta data os carvalhos encontravam-se despidos, excepto no que respeitava aos verdes ramos do visco. O visco, que continha a semente do fogo celeste, era então recolhido solenemente. “O sangue de jovens touros brancos imolados sob os raios da lua montante atraía as forças da mesma, a qual recebia e distribuía a semente do Touro celeste, reservatório de vida. Todos estes preceitos deixam pensar que os druidas extraíam do visco do carvalho um licor espiritual análogo ao soma dos brâmanes [e ao haoma dos parsis] (bebida divina e iniciática associada ao deus lunar Soma, por consequência ao Touro Zodiacal) 24”.

Para o povo, era através do Samhain que a prosperidade da terra e da tribo eram renovadas. Os celtas sacrificavam o gado e conservavam a sua carne para a alimentação durante o Inverno. Os mitos associados ao Samhain eram frequentemente representados na união de um deus tribal com a deusa da natureza protectora do território da comunidade, personificada num rio, num lago, numa montanha… A união de Dagda e Morrigan é disso um exemplo.

Pensa-se que as mais importantes cerimónias iniciáticas aconteciam precisamente nesta data. Durante 3 dias de festas, uma porta de comunicação se abria entre o mundo terrestre e o outro mundo, dos deuses e dos mortos, à semelhança do que na Grécia ocorria em Elêusis, com a viagem iniciática de Ceres-Demeter ao submundo em busca da filha Perséfone.

Com o tempo este Festival ficou lembrado apenas pelo seu aspecto mais popular e exotérico, como a Festa do ano morto e dos defuntos, da qual os cristãos se apropriaram para comemorar os seus próprios dias de Todos-os-Santos e, depois, o de Finados, a 1 e a 2 de Novembro.

No curso do ano outras duas festas, de menor importância, tinham lugar. Eram elas o Imbolc e o Lugnasad, respectivamente a 1 de Fevereiro e a 1 de Agosto.

Para os celtas, em quase todos os ritos de fertilidade agrícola, os sacrifícios animais eram uma prática decorrente. Entretanto, e com base nos escritos de César, e de alguns romanos depois dele, tem-se sustentado que os celtas também praticavam sacrifícios humanos – eventualmente, ante a iminência de uma batalha, ou, por exemplo, para debelar surtos de peste… Nas palavras de César, “os bárbaros construíam enormes gaiolas em vime, para vítimas humanas, e ateavam-lhes fogo. Tais vítimas eram quase sempre criminosos condenados, mas vítimas inocentes eram igualmente sacrificadas se houvessem poucos malfeitores”. Alguns investigadores defendem que estas seriam práticas absolutamente excepcionais. Outros opinam que este quadro de suposto martírio em oferendas de sacrifícios humanos aos deuses, poderia antes e só significar a normal decorrência da lei, punindo criminosos condenados, prática habitual em todas as nações naqueles tempos.

Não é de modo nenhum seguro, entretanto, que as alegações de César e dos romanos fossem fidedignas. Há quem questione se esta imagem bárbara dos gauleses lhes não seria conveniente, para, de algum modo, amenizar e legitimar os seus propósitos de romanização e conquista. Por outro lado, César, e depois os que o corroboraram, sempre diziam não ter sido testemunhas in loco, mas antes que: “ouvi dizer…, conta-se que…”; não obstante, essas poucas narrativas eram tão gritantes e impressivas, que acabaram ecoadas como factos, embora o possam não ter sido.

 

Os celtas irlandeses fabricavam cornetas de bronze desde pelo menos 1000 a.C.. Nas palavras de Diodoro da Sicília, “… as suas cornetas são tipicamente bárbaras: eles sopram por elas e produzem um som cavo, que brame como o fragor da guerra”.
Os homens normalmente vestiam toscas de lã, mas nas batalhas costumavam combater nus, usando apenas colares e tatuando o corpo com pinturas de guerra predominantemente azuis.
 
 
 
Os Primitivos Celtas

Definir com exactidão quem eram os celtas parece ser uma tarefa intrincada, sendo difícil encontrar respostas definitivas e satisfatórias. Frequentemente os povos contemporâneos a eles se referiam apenas como “estrangeiros” (“os bárbaros”) e sem precisarem as suas fronteiras, acrescendo que celtas e gauleses eram habitualmente confundidos pelos autores da antiguidade. Entretanto, habitualmente os romanos chamavam-lhes galli (gauleses), e os gregos celtae ou keltoi. É o caso, por exemplo, da história de Hércules e Celtina, por Parténio, na qual sempre que ele fala dos gauleses usa a designação Celtina ou Celtum; porém, sobre o mesmo relato, Diodoro da Sicília chama-os pelo nome de gálatas (ou povo galatiano). Diodoro da Sicília, Júlio César, Estrabão e Pausânias reconhecem o uso sinónimo de todas estas designações.

A Genealogia celta, bem como a sua História, a Ciência, a Filosofia, o Direito, foram transmitidos oralmente até à era cristã e nunca em forma escrita.25 Assim, muito do que deles se conhece funda-se nos testemunhos de outras culturas, como as da Grécia e Roma, bem como em achados arqueológicos, e em textos irlandeses e galeses posteriores. Articulando estas três linhas de informação, é possível, contudo, traçar razoavelmente e um perfil deste peculiar povo. Eram homens e mulheres de grande compleição física (pelo menos os mais antigos), possuíam um forte carácter, eram destemidos, engenhosos, e dominavam técnicas artesãs e metalúrgicas sem paralelo em todo o Ocidente contemporâneo. Os textos irlandeses e galeses surgiram muito mais tarde e só muito escassamente dão conta de temas e acontecimentos da Europa céltica pré-romana. Ainda assim, estes textos são de grande valia, especialmente no que se refere às tradições mitológicas que na Idade Média vieram a inspirar o acervo da literatura arturiana.

César conta que os celtas viviam em oppida ou comunidades. As oppida eram em geral casas circulares, de paredes de madeira e telhados de colmo. Refere que eles “tinham muito orgulho na sua têmpera guerreira, que consideravam como de investidura divina. Ataviavam-se solenemente para as batalhas. (…) Os Bretões pintam-se a si próprios de azul-anil de modo a parecerem mais terríficos no campo de batalha. Têm cabelos longos e os corpos depilados, excepto na cabeça e lábio superior”. Herodiano, escrevendo no séc. III, diz mais: “Como não usam roupas [nas batalhas], eles exibem ornatos de ferro nos pulsos e pescoço, que consideram decorativos e um sinal de riqueza (…) pintam grandes tatuagens no corpo com motivos abstractos e todo o tipo de animais”.

Diodoro da Sicília (contemporâneo de César), retrata-os como “altos e musculosos, de pele pálida e cabelo louro, que clareiam ainda mais artificialmente lavando-o com água acidulada. Apanham-no num puxo no topo do crânio e deixam-no cair sobre a nuca até ao tronco… por isso, o cabelo fica tão espesso, crespo e pesado que mais parece a crina dos cavalos”.

No entanto, fundamentalmente o que aqui nos propomos é assinalar uma possível ascendência celta ao patriarca Gomer, um dos filhos de Jápeto, e neto de Noé, tendo como berço a Ásia Menor. Para isso, necessitamos de algumas explanações prévias, nas quais temos que nos alongar um pouco.

 

ANTES DE NÓS, OS GIGANTES

Aqui e ali, em todas as culturas e tradições da antiguidade existem reminiscências de factores comuns que se reportam às origens da humanidade, melhor dizendo, a um seu passado pré e pós diluviano. Um desses denominadores comuns são os Gigantes. Hindus, persas, semitas, gregos, eslavos, celtas, escandinavos, maias, todos referem que os antepassados dos homens na Terra foram titãs, cabiros, gabri, nephilim, giborim, rephaim, enaquins, râkchasas, daityas, dânavas, quinanes, hrimthurses, joetuns

No que se refere à tradição judaico-cristã, podemos ler nas suas escrituras diferentes episódios que aludem à(s) raça(s) dos gigantes. Na Bíblia (Vulgata), encontramos a afirmação inequívoca “naquele tempo viviam gigantes na terra, e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens, e delas geraram filhos; estes eram os heróis tão afamados nos tempos antigos” (Genesis, 6:4); menções a combates entre filisteus e israelitas, como a heróica façanha de David vencendo o gigante Golias (II Samuel 21:15-22); aos rephaim [os emim e os enacim ou enaquim] (Deuteronómio, 2:10); ao gigante Ogue, o último da raça dos rephaim, de “nove côvados de altura” (Deuteronómio, 3-11); aos nephilim [ou enaquins] de quem se diz que, perto deles, os israelitas pareciam gafanhotos (em Números, 13:33); aos gigantes filisteus, descendentes de Rapha [ou rephaim] (I Crónicas, 20:4-8), etc… Outros exemplos podem ser vistos na Bíblia de Jerusalém: “… é lá que nasceram os gigantes, famosos desde as origens, descomunais na estatura e adestrados na guerra. Mas não foi a eles que Deus escolheu, nem a eles indicou o caminho da ciência. Por isso pereceram, por não terem a prudência; pereceram por sua irreflexão…” (Baruque 3:26); “… pois quando, nas origens, pereciam os gigantes orgulhosos, a esperança do mundo se refugiou numa jangada que, pilotada por tua mão, aos séculos transmitiu a semente da vida” (Sab.14:6).

Se fizermos uma pequena digressão pela antropogénese religiosa do povo judeu, verificamos que no 10º Capítulo do Genesis, existe uma personagem fulcral, ali descrita como sendo um patriarca da nova humanidade pós diluviana: o seu nome era Jápeto. Jápeto, filho de Noé, teria (juntamente com os pais, irmãos, respectivas mulheres, e a sua própria esposa) participado na gloriosa missão da Arca da Salvação. Esta Arca albergaria as sementes da nova vida, que os desígnios dos Elohim (os Poderes Criadores e Directores, entre os quais Jeová, geral e abusivamente traduzidos por “Deus”) projectavam para repovoar a Terra. E assim se fez: da Arca, qual ovo germinal, surgiram os ramos que configurariam muitas nações…

Jápeto veio a ter, pela sua parte, sete filhos, sendo Gomer o primogénito. E este seria o fundador de um grande povo denominado os gomerianos… Foi este povo que, mais tarde, no Ocidente europeu, foi chamado cimbri ou os cimmerianos, os quais (ao que muitas fontes apontam), seriam os primitivos celtas, como detalharemos mais à frente.

 

O Jápeto Grego e os seus Congéneres noutras Nações

Neste contexto, vale a pena lembrar uma história paralela, contada pelos gregos antigos. Concordantemente, também as suas lendas falam de homens primitivos que eram gigantes – titãs – e um deles igualmente se chamava Jápeto. O Jápeto grego foi, por sua vez, pai dos cabiros/titãs Prometeu, Epimeteu, Menelau e Atlas. (Sobre Atlas, dizia-se26 ter sido ele o primeiro rei da Arcádia e, muito sugestivamente, que viera do Monte Cáucaso, lugar muito próximo do berço da Humanidade, segundo os judeus)27.

Estes homónimos (os dois Jápetos), patriarcas/ iniciadores de uma nova era de vida humana na Terra, são, por seu turno, idênticos à figura do Manu das escrituras da Índia. Tal como são semelhantes, no Egipto, à de Menes28, o primeiro Rei-Sacerdote das dinastias divinas, herdeiro da semente atlante, e que teve por missão comunicá-la ao povo egípcio. Este Menes, esotericamente, era a divindade Ptah (ou um aspecto do grande Ptah). Com efeito, Japhet (hebreu) é identificado com Ptah (egípcio), derivando ambos estes nomes patronímicos do verbo patah (abrir). Significam eles “o abridor”, “o iniciador”.

Sob o ponto de vista oculto, todos estes iniciadores são, pois, potências que a humanidade deste ciclo29 veio/ vem actualizar. São como protótipos (ou as sementes germinais) que contêm o modelo do novo homem em cada novo ciclo, com acrescidas qualidades típicas a desenvolver e vivenciar em cada nova etapa da Evolução. A Arca da Salvação (das escrituras bíblicas) representa isso mesmo: o somatório de todas as potências, de todos os germes, que se farão transportar e desabrocharão na nova Idade.

 

Os Dilúvios Tradicionais e o seu Significado Místico

Em todas as cosmogonias, a Manifestação da Vida animada é cíclica e septenária. Em cada período de descanso o somatório de todas as experiências acumuladas recolhe à sua condição essencial (a uma forma elementar, de germe, à falta de melhor expressão). Este acontecimento é figurado simbolicamente em todas as escrituras como a recolha de todos os princípios da Vida a um Oceano, vogando no Abismo numa barca, ou num ovo divino. O episódio da Arca da Salvação dos povos semitas representa isso mesmo. Esse preciso acontecimento descrito pelos antigos brâmanes, diz o seguinte:

Durante o Dilúvio (ou Pralaya), Brahma, ou o Poder Criador, dormia no seio do Abismo. Os princípios ou poderes generativos, feminino e masculino, flutuavam nessas Águas. A Taça (ou Barca ou Argha) que os continha era simbolizado pelo Linga e pelo Yoni. O Yoni, feminino, era representado pelo casco ou taça, e o Linga, masculino, pelo mastro, que se situava no meio. A Argha ou Arca, com o seu Monte Meru (o Omphalos de Delfos), pode ser visto nos templos de toda a Índia.

Esta barca era a Argo da Grécia, o nome do navio místico no qual os Jónios [Ionios], que viviam em Argos, embarcaram para buscar o Velo de Ouro30. A Arcádia ou Arga-dia, a Arga Sagrada, fora o berço dos gregos, e estes também se chamavam argivos.

A Argha da Índia era a mesma que a Patera dos gregos e romanos, tão sagrada nos Mistérios de Delfos. Entre os hindus chamava-se Argha ou Patera (ou Pâtra), e outras vezes Argha-pâtra, e era representada numa taça em cobre, como símbolo da Mãe Universal. Também os gregos e celtas lhe reconheciam o carácter sagrado e a usavam nos seus rituais – designadamente na forma do caldeirão.

O caldeirão mágico da tradição irlandesa, Murios, faz precisamente derivar o seu nome de muir, o mar. Esse Mar, o Akasha, é a fonte inesgotável de todos os dons, de todas as potências, de toda a Sabedoria, de tudo o que existe, existiu e existirá. O caldeirão simboliza a Argha e também o cálice de todas as virtudes: o Graal (Graal é praticamente um anagrama de Argha). 31

 

Quem Eram e de Onde Vieram os Celtas?

Até ao presente, a investigação arqueológica não acrescentou uma luz definitivamente esclarecedora a esta bruma. Apesar disso, reunindo o cúmulo de achados e respectivas interpretações dos especialistas, e articulando-os com os textos mais antigos, tem-se hoje matéria para sustentar que a Europa central e ocidental albergou uma população homogénea desde pelo menos o meio do segundo milénio antes da nossa era. Poderemos chamar celtas a esse povo?

Por volta do séc. VI a.C., há registos de uma grande vaga migratória dos celtas, de Oriente para Ocidente e para Norte da Europa, chegando até ao Reino Unido e Irlanda. No período da sua máxima expansão, entre os séculos V e III a.C., o seu território abarcava uma vasta região geográfica, que se estendia desde a Irlanda, o litoral oeste continental da Europa, incluindo boa parte da Península Ibérica, até ao centro da Turquia.

Hecateu de Mileto, historiador e geógrafo que viveu no tempo de Dario (séc. VI a.C.), conta que os bárbaros (e referia-se aos da Céltica) habitavam o Peloponeso antes dos Helenos (e Graecianos). Hecateus fala só no Peloponeso mas Estrabão e Pausânias afirmam o mesmo a respeito de quase toda a Grécia.

No séc. XVI, o monge italiano Ânio de Viterbo, especialista em línguas orientais e etrusco antigo, escreveu o tratado Antiquitatum Variarum apoiando-se em textos apócrifos gregos e latinos pré-cristãos, e nele considera os celtas o primeiro povo a habitar a Europa depois do dilúvio.

Há ainda quem defenda a teoria de uma gradativa celtização de culturas que já existiriam na idade do bronze no Norte e Ocidente europeus.

 

Os Filhos de Gomer

A Mitologia tem tido muitas vezes um papel determinante, ajudando a desvendar o que jaz oculto, soterrado pelas idades, sobre a natureza e a identidade dos povos.

Assim, voltemos então agora a falar de Gomer, o filho do Jápeto hebreu, de quem se disse ter dado origem ao importante ramo dos gomerianos. Com efeito, no curso da história, numerosos testemunhos parecem corroborar esta asserção. Vejamos alguns:

Ioannes Zonaras, um eminente juiz e cronista de Constantinopla, no tempo de Alexius (séc. XII), deixou um tratado em 18 volumes, Epitome Historiarium, sobre a história da humanidade. Nele referia que “o povo da Gália era chamado gomari, gomeraei e gomeritae. Os bretões chamam-se a si mesmos kumero, cymero e kumeri. (…) Este povo, que por abreviação se chamou cimbri, era o mesmo povo que sob o comando de Brennus saqueou Delfos, na Grécia, e é hoje chamado jocosamente ‘os gauleses’. Apiano, na sua Illyricis, afirma serem eles chamados Cimbri: ‘Os Celti (ou Gauleses)’, diz, ‘a quem eles chamam cimbri’.

Posidónio diz expressamente que os gregos chamavam cimmerianos ou cimmerios aos cimbrianos ou cimbros, ‘Cimbros Graeci Cimmerios appelavere’.

Lucano relatou que o assassino enviado para matar Mário era então chamado por ‘um cimbriano’. Lívio a ele se referia chamando-o de ‘um gaulês’; e o historiador Reinero Reinéccio observou que os gauleses e os cimbri falavam a mesma língua. Josefo faz igualmente de Gomer o patriarca dos gálatas. Por sua vez, Bochart apelidava-os gálatas frígios (ou galateus frígios), ou gálatas asiáticos, chamando ainda à sua pátria Gallograecia e Galatia”.

O Abade Pezron, um renomado historiador e linguista do séc. XVII, sobre o mesmo assunto. exprimiu-se nestes termos “o mais remoto nome dos celtas, de quando eles ainda permaneciam na Ásia, era o de comarianos (ou gomarianos), também chamados gameritas por alguns autores. Este era o seu nome verdadeiro e original, aquele que possuíam desde os primeiríssimos alvores do mundo. Receberam-no de Gomer, o filho mais velho de Jápeto, sendo este o seu patriarca e fundador. Este nome, que agora nos soa obscuro, não era desconhecido dos antigos geógrafos e era, sim, famoso nas terras altas da Ásia, onde os celtas de que falamos tiveram as suas origens. (…) Igualmente Josefo já havia dito: ‘… ele [Gomer] foi o fundador dos gomeritas, a quem agora os gregos chamam gauleses e galatianos’”.

E o Abade Pezron continuava: “Mas debrucemo-nos sobre os livros e mapas de Ptolomeu, o famoso geógrafo, e detenhamo-nos por um momento nas (províncias das) terras altas da Ásia. Refiro-me àquelas entre a Bactriana Média e o Mar Cáspio, e aí logo nos deparamos com os chomarianos ou comarianos, que não são outros que os gomerianos de Josefo, e a quem alguns entre os antigos chamaram gamaritas, o que dá no mesmo. Os gomerianos, por conseguinte, de acordo com Josefo, eram os galatianos ou gauleses. Celtae, gauleses, gaedil, cadel, keil, todos estes são nomes dos celtas…”.

Eustáquio de Antioquia, no comentário sobre o Hexameron (e chamando Gamer a Gomer), sustenta: “Gamer foi o fundador dos gamerianos, a quem agora chamamos galatianos ou gauleses”. E Isidoro, bispo de Sevilha, no seu famoso livro Origens e Etimologias, afirmava: “Os filhos de Jápeto eram sete, dos quais Gomer foi o pai dos galateanos, ou seja, os gauleses”. A Crónica de Alexandria no mesmo sentido atestava: “Gamer, de quem os Celtae ou Keltae são descendentes…”. Enfim, asseverava o historiador judeu Joseph Goronidis: “Os filhos de Gomer são os francos, que habitam na França no Sena…”.

 

Sete Ramos de um Vigoroso Tronco

Nestes termos, de acordo com a tradição judaico-cristã, em Génesis 10: 5 estariam enunciados os progenitores das actuais raças humanas. E com base nessa narrativa, tem-se aventado a seguinte distribuição:

Jápeto teria dado origem ao ramo europeu (ariano); Cam, teria sido o progenitor dos africanos (do norte); e Sem, o dos asiáticos (incluindo árabes e judeus).

No que concerne aos filhos de Jápeto, e presumindo-se uma irradiação sucessiva, eventualmente em diferentes fluxos e fases, a lista seria como se segue:

Com efeito, Gomer teve, por sua vez, três filhos: Ashkenaz, Riphah e Togarmah. Sobre Ashkenaz, o Targum Jerushalemiidentifica-o com os barbari, que foi a designação comum para os invasores do Império Romano entre 200-500 d.C..

Riphah parece estar relacionado com os montes Riphae ou Cárpatos (Urais). Algumas fontes romanas e gregas (como Aristóteles) atribuíam o nome Riphas ou Riphai aos Alpes. O Targum Yehonathan situa Riphah em Parkvi, na região de areia a leste do Mar Cáspio.

Togarmah, o 3º filho de Gomer, foi identificado com a região de Tilgarimu, a norte e nordeste da Cilícia. Também no Hara Berezaiti (antes referido como provável verdadeiro berço dos celtas) e regiões vizinhas a oriente do Mar Cáspio se situava Tukharistan e um povo chamado Togar ou Tukhariano na literatura clássica. Com efeito, nestas mesmas regiões viveram os Chumaru, Chomari ou Komari, cujos nomes se relacionam e soam próximo dos cimmerianos e de Gomer. Algumas tradições rabínicas relacionam tanto Gomer quanto Ashkenaz com os germanos, Riphah com os povos que habitam hoje a região da França (Gália), e Togarmah com os turcos.

 

Este antigo diagrama distribui os principais ramos provenientes de Noé do seguinte modo: Jápeto, pai dos europeus (arianos); Cam, pai dos africanos (do norte); Sem, pai dos asiáticos (incluindo árabes e judeus).

 

Celtas e Pelasgos, Irmãos de Sangue?

Houve tempos em que a cultura celta parece ter corrido pari passu com a dos gregos, como se de dois irmãos de sangue se tratassem. Melhor dizendo, os verdadeiros irmãos teriam sido os pelasgos, antepassados dos gregos, e os protoceltas.

Na velha Grécia conhecem-se dois alfabetos antiquíssimos. Um era o pelasgo ou argivo, também chamado ático, ou arcadiano32; o outro, era o jónio, fenício, cádmico ou eólico (contudo, os jónios eram chamados pelasgoi ou aigiales). O pelasgo até hoje tem sido uma incógnita para os linguistas, que desconhecem as suas origens. O próprio povo, escondido nas brumas do tempo, permanece um mistério.

No mito pelasgo da Criação, Eurínome, a Grande-Mãe primordial, começou por criar o Oceano. Depois, por efeito do Grande Sopro do Norte, foi criada a Serpente Ophion, à qual se uniu Eurínome. Tomando a forma de uma pomba (peleia, em grego33), ela chocou o ovo que havia posto nas ondas do mar34. Ophion enroscou-se sete vezes em torno do ovo que, ao eclodir, deu nascimento a tudo o que existe35. Este ovo é o mesmo Ovo da Serpente, que os Druidas veneravam.

Com efeito, os Druidas cultuavam o ovum anguinum, cuja descrição nos chega por Plínio36. Diz ele: “o ovum anguinum é uma espécie de ovo, esquecido pelos gregos, mas tido em alto conceito pelos gauleses. No verão, inúmeras serpentes se amontoam, enleadas e coladas umas às outras pela peçonha e pela espuma que os seus corpos destilam, e produzindo, assim, o que se chama o ovo de serpente. Os druidas contam que este ovo é projectado pelo ar pelos assobios dos répteis e que é preciso recolhê-lo num sagum [lençol], a fim de evitar que toque na terra [cuidado este, idêntico ao da recolha do visco]. (…) e ele é reconhecido por flutuar contra a correnteza das águas (…). Eu vi esse ovo: tem a dimensão de uma maçã média, redonda, e a superfície é cartilaginosa, com numerosas cúpulas, semelhantes às dos tentáculos de um polvo…”.

Os pelasgos, tal como os celtas, acreditavam num Paraíso situado ao “Norte” (para eles o Jardim das Hespérides ficava ao Norte, e não a Ocidente como os gregos mais tarde consideraram), idêntico à misteriosa Ilha de Avalon 37 da mitologia céltica, e à Jambu-dvîpa, a Ilha das Maçãs de Ouro, que gravita à volta do Monte Meru, nas lendas purânicas.

Mas tacteemos um pouco na história e nas tradições, procurando achar alguns sinais de quem seriam verdadeiramente os pelasgos.

Ásio de Samos, um genealogista e poeta38 do séc. V a.C., refere Pelasgo como o primeiro homem, nascido da terra [depois do Dilúvio] para criar uma raça de homens. Ésquilo, em As Suplicantes, fala de Pelasgo igualmente como o nascido da terra, e governante de um reino que abrangia de Argos a Dodona e ao Estrímão.

Na Ilíada, Homero usa duas vezes a expressão adjectivante “pelásguico”, em referência a uma região chamada Argos, na Tessália, e também ao Templo de Zeus [o Zevis dos pelasgos], em Dodona. Oito séculos depois, Estrabão corrobora-o e fala de Dodona como “o assento dos Pelasgos”, ou “a sede dos Pelasgos”.

Eustácio de Tessalónica, no seu comentário à segunda Ilíada (verso 841), interpretando a razão por que Homero ali chama divi (divinos) aos pelasgos, diz ter sido “porque somente eles [entre os gregos] preservaram o uso das letras depois do Dilúvio”.

Há ainda uma outra teoria que identifica os pelasgos com os gigantes filisteus (os peleset).39

Por último, existe outra tradição que remonta a origem dos pelasgos a Javan (ou Yavan), um dos irmãos de Gomer, e filho de Jápeto – donde derivaria o nome de Jónios ou Ionions.40 Nesse caso, fica a interrogação se este mítico Pelasgo não seria idêntico ou mesmo o próprio Javan?

E assim de novo demos a volta, para rumar aos filhos de Jápeto. Na realidade, parece ser que tudo na Arca (ou na Argha) se centra… e que dela(s) tudo despontou…

Efectivamente não estranhamos estas paridades. Entre gregos e celtas parece ter havido muitos elos comuns – mormente, identidades fundamentais em termos místico-religiosos. Em última análise, a alma dos dois povos parece ser uma única, quando é certo, afinal que, na mais essencial das realidades, a Humanidade é mesmo uma só!…

 

Isabel Nunes Governo

Vice-Presidente do Centro Lusitano de Unificação Cultural

 

  1. Os oráculos mais famosos da Grécia eram o de Apolo, em Delfos, e o de Zeus, em Dodona. Neste último, a palavra de Zeus fazia-se ouvir através do rumorejo produzido pelas folhas deste carvalho sagrado aqui referido. Os sacerdotes e as sacerdotisas do templo de Dodona faziam, então, a interpretação dos rumorejos ao consulente (na Odisseia, Ulisses foi um destes consulentes junto do carvalho divino); e sabe-se que o cerimonial envolvia a utilização de um caldeirão e de uma estátua. Atenas (filha de Zeus) serviu-se deste carvalho sagrado, dele retirando um tronco para a fabricação da Argo. É de supor que o episódio da atribuição do dom da palavra divina à proa da nave vele um significado simbólico-mágico, cujo conhecimento os Druidas (que eram profetas) eventualmente terão partilhado. Também eles tinham o carvalho como o centro das suas cerimónias mágicas, bem como atribuíam um valor mágico à utilização do caldeirão…
  2. Orfeu, com a sua voz divina e a música da sua lira, tinha por missão não apenas incutir cadência aos remadores mas, principalmente, evitar a sedução do canto das sereias. Uma das primeiras escalas da viagem foi à ilha da Samotrácia onde, por indicação de Orfeu, todos os argonautas se iniciaram nos “Mistérios dos Cabiros”. Orfeu era proveniente da Trácia.
  3. Também nos Purânas, Kusha-dvîpa é uma das sete ilhas ou continentes, entendidas como as matrizes onde decorrerá a evolução de cada uma das sete Raças na Terra.
  4. Idêntica à Serpente dos gnósticos, com as 7 vogais coroando a sua cabeça, símbolo das 7 Hierarquias Criadoras. Também a serpente hindu Secha ou Ananta, a Serpente da Eternidade, era um nome de Vishnu e o primeiro veículo deste deus nas Águas Primordiais.
  5. Philosophical Research Society, Los Angeles, 1928
  6. Algumas fontes indicam que seriam seis os graus por que um Druida deveria passar para chegar a Arquidruida, a cabeça espiritual da hierarquia.
  7. Taliesin é o poeta mais antigo da língua galesa cujo trabalho sobreviveu. Na lenda e na poesia galesa medieval o seu nome é referido como Taliesin Ben Beirdd (“Taliesin, Chefe dos Bardos”). A importância da sua vida deu origem a diversos contos mitológicos, em diferentes versões escritas após o seu tempo, a mais antiga sendo de Elis Gruffydd (em meados do século XVI), que se baseou na tradição oral sobre ele. Nesta versão, Taliesin era o filho adoptivo de Elffin ap Gwyddno, que lhe deu o nome de Taliesin (significando “o da testa radiante”), tornando-se depois ele-próprio rei em Ceredigion. A lenda conta que ele foi criado na corte em Aberdyfi e que aos 13 anos, ao visitar o rei Maelgwn Gwynedd, tio de Elffin, profetizou correctamente a iminência da morte de Maelgwn e tal como ocorreria.
  8. In The Origin of Pagan Idolatry, de Stanley Faber, Kessinger Publishing.
  9. A Doutrina Secreta, Vol. IV, de Helena P. Blavatsky, Ed. Pensamento, S. Paulo, 1973.
  10. A avaliar pelo período provável em que Pitágoras ensinou, ou seja, na segunda metade do séc. VI a.C., esta incursão do seu discípulo Zalmoxis à Céltica teria acontecido pelo início do séc. V.
  11. The Faiths of the World, A. Fullarton & Co., Glasgow.
  12. As Tríades (espécie de catecismo celta) registam que Anglesey foi outrora parte do continente, como prova a geologia. Era aqui o principal centro dos Druidas, o qual, segundo Tácito, foi destruído no séc. I pelo exército romano, restando hoje 28 cromlechs. Nessa batalha houve um verdadeiro massacre dos Druidas.
  13. Segundo Artemidoro, numa ilha perto da Bretanha celebrava-se um Ritual em tudo idêntico ao dos Mistérios da Samotrácia. Eventualmente, tratar-se-ia de uma destas duas ilhas.
  14. Charles W. Heckethorn, The Secret Societies of All Ages & Countries, 2 Vols, University Books, London, 1965.
  15. Cosimo Classics, Nova Iorque.
  16. Conhecemos ainda outra versão deste mito: Hu Gadarn teria dirigido o seu povo até ao continente europeu desde uma “Terra de Verão” que teria sido a Atlântida (ou na Atlândida).
  17. Albert Pike (1809-1891), nascido em Washington, foi um notável escritor e advogado. Foi o grande líder da maçonaria entre 1859 e 1891 nos E.U.A., e escreveu o livroMorals and Dogma of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry”, considerado a obra clássica da Maçonaria Moderna. Por esse motivo é lembrado pelos seus pares como um dos mais bem sucedidos maçons da História, sendo a sua acção determinante para fazer da Maçonaria a instituição que é hoje.
  18. Este ciclo é um múltiplo comum aproximativo dos períodos orbitais da Terra e da Lua. Com efeito, 19 anos tropicais e 235 meses sinódicos não diferem mais do que 2 horas. Assim, 19 anos solares de 365,25 dias perfazem 6939 dias, e 235 meses lunares igualmente equivalem a 6939 dias.
  19. No relato de Júlio César, “os gauleses afirmam que Plutão ou Dis foi o seu progenitor, e atribuem esta revelação à tradição dos druidas”.
  20. As Tríades são muito expressivas sobre o conhecimento que os Druidas possuíam sobre astrologia. Curiosamente, Diodoro da Sicília dizia que numa ilha a oeste da Céltica, os Druidas traziam o sol e a lua para junto deles, pelo que fica a interrogação de se não usariam instrumentos telescópicos. Durante este período de 40 dias, o curso das Plêiades no céu era apenas diurno, e elas encontravam-se demasiado perto do sol para poderem ser vistas. Este período não foi sempre o mesmo. O asterismo das Plêiades terá sido coincidente com o equinócio em 2357 a.C..
  21. Durante este período de 40 dias, o curso das Plêiades no céu era apenas diurno, e elas encontravam-se demasiado perto do sol para poderem ser vistas. Este período não foi sempre o mesmo. O asterismo das Plêiades terá sido coincidente com o equinócio em 2357 a.C..
  22. O nome Dodona ter-se-ia originado no nome da oceânide Dodona, com quem Deucalião (o Noé grego) casara após ter consultado o oráculo do carvalho e ter ouvido a pomba (a profetisa) dizer-lhe para se estabelecer naquele lugar.
  23. Todas estas árvores eram árvores oraculares, também chamadas arbores loquaces, e haviam-nas em muitos lugares na antiguidade. Com efeito, era uma prática habitual dos povos antigos edificarem santuários em torno de uma árvore sagrada, a que costumavam consultar-se: olmos, freixos, loureiros e carvalhos eram as eleitas. Ficaram famosos o Carvalho de Zeus, em Dodona, de Júpiter Capitolino, em Roma, de Ramowe, na Prússia, de Perun, entre os eslavos. Por outro lado, hebreus e fenícios deram frequentemente às suas terras e aldeias o nome de “Carvalho dos adivinhos”…
  24. Les Celtes et le Druidisme, Raimonde Reznikov, Ed. Dangles, 1994.
  25. Os celtas tinham isto como um preceito religioso, tal como nos atesta César: “Os druidas consideram indigno verter o seu conhecimento à forma escrita. Penso que assim procedem por dois motivos: não desejam que o seu sistema decaia e se torne vulgarizado, nem que os seus discípulos, apoiados na forma escrita, deixem de exercitar a memória…”.
  26. Nomeadamente, Dionísio de Halicarnasso afirmou-o.
  27. O Monte Ararat, onde tradicionalmente a Arca teria amarado, integra a Cordilheira do Cáucaso.
  28. Há quem sustente que Menes (Menei ou Mnée) era o mesmo grande ser que os hindus chamam Ikshwâku, o filho do Manu Vaivasvata. Ikshwâku foi o primeiro rei da dinastia solar, de onde se originou a família real dos Sâkyas, a que pertencia Buddha.
  29. … a nossa actual 5ª Raça, segundo os anais ocultistas.
  30. Sobre este mito, remeto para os meus artigos “Um Grande Arcano e as Muitas Arcas”, na Biosofia nº27, e “O Voo de Phrixus”, na Biosofia nº17.
  31. Os caldeirões trípodes, em todas as culturas antigas, eram as potências de todas as Trindades Divinas, donde mana o elixir da imortalidade. Kasan (caldeirão) é o nome de muitos heróis turcos.
  32. Refira-se que alguns autores crêem ter identificado o pelasgo ao etrusco, ou italiano antigo – que também ele se chamava arcadiano, pois dizia-se ter sido trazido da Arcádia para o Lácio, por Evandro.
  33. Na Suméria, chamaravam-lhe Iahu ‘Anat, que significa “pomba sublime”.
  34. Foi por isso chamada Alcione, a estrela principal das Plêiades, pois os alciones – dizia-se – faziam os ninhos e chocavam os ovos à tona de água, no Mar.
  35. Esta imagem remete-nos para outras mais difundidas, do omphalos em torno do qual se enrola uma serpente, nomeadamente no caduceu ou bastão de Hermes, e no de Asclépios.
  36. História Natural, Livro IX.
  37. Em alguns dialectos celtas aval significa precisamente maçã, donde Avalon, e donde as maçãs de ouro das Hespérides. A maçã era um atributo do deus Belenos, equivalente a Apolo.
  38. Poeta da Escola de Homero.
  39. Os filisteus eram cananitas (habitavam o litoral de Canaã), e a língua cananita era a mesma que a acadiana. Segundo Moisés Espírito Santo, “o acadiano foi a língua dos impérios acadiano (séc. XXX-XXIII), babilónico e neobabilónico, que compreendiam a região mesopotâmica, a Fenícia, a Síria e a Ásia Menor”.
  40. Também faria sentido uma derivação do nome Ionions de Iona, a pomba – a pomba de Dodona (que fora o “assento dos Pelasgos”) ou a Dione; a pomba do mito de Eurínome; as Plêiades, ou pombas celestes; mas ainda o Yoni sagrado (os bizantinos de Constantinopla chamavam jocosamente “efeminados” aos gregos [jónios] por essa associação no sentido pejorativo).

Informação adicional

Peso 0.210 kg